Em 2006, o diretor Zack Snyder ganhou fama mundial ao adaptar os cenários e lutas épicas de 300, graphic novel de Frank Miller sobre o rei Leônidas e seu pequeno exército na batalha de Termópilas, entre Esparta e Pérsia. A estilização da violência e dos corpos masculinos e a exploração da sexualidade feminina viraram marcas do estilo de Snyder, reproduzidas à exaustão em cenas em câmera lenta em filmes como Watchmen (2009) e Sucker Punch (2011). O estilo de Snyder ganha uma nova geração em 300 – a ascensão do império, produzido por por ele e dirigido pelo desconhecido Noam Murro.
Se a estilização nas obras de Snyder serve de artifício para esconder o vácuo de conteúdo, Noam Murro não vai muito além. A ascensão do império não é uma continuação direta, mas atravessa a história de 300. A trama parte da narração em off da rainha Gorgo (Lena Headey), de Esparta, que explica a trajetória do rei persa Xerxes (Rodrigo Santoro) para se tornar um deus até a batalha marítima entre persas e atenienses.
Desde o flashback inicial, o tom vermelho invade a tela. As lutas bem coreografadas parecem inúteis, já que todo o centro da história se dá com flechadas disparadas de distâncias seguras.
O aspecto mais grave do filme, no entanto, é a caracterização dos persas. Frank Miller, autor de Terror sagrado, uma glorificação da guerra ao medo norte-americana, apresenta os persas como uma ameaça irracional. E se a Pérsia é o Irã e os iranianos são árabes, parece justificável, na cabeça de Miller e Murro, incluir a presença de homens-bomba entre os “vilões”. A marinha de Xerxes, inclusive, sempre que comandada por um general árabe, usa a tática de “navegar para frente e morrer sem honra”. Quando é a grega Artemísia (Eva Green) quem os comanda, finalmente os persas usam de estratégia para fazer par ao xadrez de Temístocles (Sullivan Stapleton), o comandante ateniense.
A ascensão do império destoa positivamente do antecessor no trato de suas protagonistas femininas, Gorgo e Artemísia. Fortes e sem medo de ir às armas, as duas são as forças motoras de persas e espartanos. O problema é que tanta força acaba dissipada pela insistência do filme em justificar a violência pela vingança. De toda forma, esse papel é mais justo do que o de bonecos sexuais a que Zack Snyder as reduz.
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