*Editorial do Boletim Informativo Trocando em Miúdos
 Acabou a greve nacional dos bancários em todo o País. Aqui na Paraíba, foram 21 dias de paralisação nos bancos privados, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, mas os companheiros do Banco do Nordeste do Brasil ainda permaneceram mais dois dias de braços cruzados. Em quase um mês de greve os bancários conseguiram 10% de reajuste para salários, Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e piso, e 14% para os vales alimentação e refeição.
Passada a greve, encontramos agências cheias de pessoas se acotovelando em filas intermináveis. E os bancários de volta ao cotidiano com um sorriso largo e se desdobrando para tentar suprir a falta de funcionários, apelando para não serem agredidos verbal e até fisicamente por clientes e usuários, que também são vítimas da ganância dos banqueiros.
Interessante é que nesses aglomerados de pessoas insatisfeitas não encontramos o brado daqueles “salvadores da pátria” que, durante a greve da categoria profissional, apareceram com soluções mirabolantes em defesa de clientes e usuários, inclusive com ações que ameaçaram o cumprimento da Lei de Greve e o direito constitucional dos bancários.
Cadê a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Paraíba (OAB-PB), que conquistou uma liminar favorável a um segmento da sociedade, em detrimento do conjunto da sociedade? Por que tomou essa medida contrária ao que apregoa a entidade em defesa do estado democrático de direito, justamente em um ano de eleições na OAB Paraíba?
Cadê o empenho do Procon Estadual, que durante a greve entrou com uma ação contra os bancos, exigindo o acolhimento de depósitos pelos caixas eletrônicos, mesmo sabendo que os bancários estavam em greve e não poderiam processar tais operações?
E agora, José? A greve acabou, os bancários voltaram à rotina, os bancos não aceitaram contratar mais bancários, as agências continuam lotadas e o povão à mercê de sua própria sorte, em filas que não acabam mais... Cadê o heroísmo manifestado durante a greve?
Ainda bem que a greve só durou 21 dias. Se a categoria tivesse fôlego, poderia se prolongar ainda mais. Assim também como poderia ter sido bem mais curta, se houvesse realmente consciência de classe e adesão de cem por cento dos bancários. E olhe que aqui na Paraíba, onde a greve foi uma das mais fortes do País, conseguimos o fechamento de 91,49% dos pontos de atendimento na base do Sindicato dos Bancários da Paraíba.
Além dos ataques externos, sofremos outro tipo de ataque ainda mais danoso, que vem de dentro do movimento, que é a ação maléfica do fura greve; essa figura sorrateira que se aproveita da fragilidade dos bancários ante a força dos banqueiros e se apresenta voluntariamente para satisfazer as vontades do banco, contrariando as deliberações coletivas, optando por esse caminho equivocado e tortuoso para obter vantagens pessoais.
E foi assim que se desenrolou a campanha deste ano, com os banqueiros usando a desculpa da crise financeira para não atenderem às reivindicações dos bancários. E, apesar de termos entregue a minuta de reivindicações no dia 11 de agosto, a discussão sobre remuneração só veio acontecer no dia 16 de setembro.
Após oito dias, os representantes dos bancos apresentaram uma proposta de reajuste geral, de 5,5%, mais um abono de R$ 2.500,00. Essa falta de respeito provocou a revolta da categoria, que deflagrou a greve, a partir do dia 6 de outubro. No dia 20 daquele mês, os banqueiros propuseram o reajuste de 7,5%, sem o abono pecuniário, aumentando no dia seguinte o índice para 8,75%.
O Comando Nacional dos Bancários recusou a proposta rebaixada e só voltou a sentar com os banqueiros, quando finalmente os bancos propuseram a proposta de 10% sobre salários, PLR e Piso e 14% para os vales alimentação e refeição, além do abono parcial dos dias paralisados e a compensação das horas de greve.
Para alguns, o reajuste foi pouco para tantos dias de greve. Entretanto, a maioria dos bancários entendeu que, com a conjuntura política e econômica totalmente desfavoráveis, mais a inquietação da sociedade e a interferência de alguns setores contra a greve, a aprovação da proposta era inevitável.
O Comando Nacional dos Bancários agiu com serenidade, ante a intransigência dos banqueiros, que tentaram de todas as formas quebrar o ciclo de concessão de reajustes com ganho real todos os anos, e se manteve firme na estratégia para conseguir mais um reajuste com ganho real pelo décimo segundo ano consecutivo.
Disso tudo nos fica a lição de que vale a pena a campanha unificada e que devemos continuar lutando contra a mesquinhez e a intransigência dos banqueiros, em busca de mais contratações, mais segurança e melhores condições de trabalho e qualidade de vida.
Afinal, exploração não tem perdão!
*Editorial do Boletim Informativo Trocando em Miúdos, edição 567, do Sindicato dos Bancários da Paraíba
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