Agora que o caso La Vue se revelou um tremendo Déjà-Vu, convém assinalar algumas particularidades do governo Temer. Governos sem lastro no voto popular estão condenados a repetir mais do mesmo. Não têm para onde correr nem força própria para se reinventar. São eternamente dependentes de quem lhes apontou o caminho do trono.
O caso de Michel Temer é especialmente dramático. Eduardo Cunha, o principal fiador, encontra-se preso numa cela da Lava Jato, apenas seis meses depois de comandar a votação que abriu o processo de impeachment.
Na versão mais benigna de um caso que está longe de estar esclarecido, o ministro Geddel Lima, principal operador do Planalto na Câmara, foi forçado a pedir demissão quando tentou usar seu prestígio -- e do chefe -- para evitar que um apartamento de 3,5 milhões se transformasse num mico imobiliário.
Geddel deixa o cargo 48 horas depois de ter sido incluído pelo delator Nestor Cerveró no time de espertalhões do PMDB que patrocinou a nomeação do corrupto confesso Delcídio Amaral para uma diretoria da Petrobras.
O colapso do governo Michel Temer, antes que o golpe parlamentar de 31 de agosto tenha completado três meses, não deve surpreender ninguém.
Estamos falando de um governo constituído por horizontes medíocres, tarefeiros para toda obra, movidos a interesses ainda menores -- condição que explica o empenho para aplicar, metodicamente, sem remorso, um plano de destruição dos principais avanços que os brasileiros acumularam em 500 anos de história.
Em 2016, o povo padece a pior recessão da história e o núcleo do governo ficou nervoso por causa de um apartamento em área de preservação ambiental.
Os governos estaduais estão quebrados por uma tragédia econômica que destruiu toda e qualquer possibilidade de recuperação mas o presidente da República diz ao ministro da Cultura que está preocupado com a irritação de seu chefe da Casa Civil.
O déjà-vu apenas confirma que o traço principal deste governo é a falta de compromissos a com a vontade da maioria dos brasileiros --aquela mesma que, confessadamente, Temer nunca teve receio de provocar com "medidas amargas.
E esta é a questão que interessa, ontem, hoje, amanhã, mais do que nunca. A velocidade da crise que devora o governo Temer só lembra que não há saída fora dos poderes do povo, aprende-se no artigo 1 da Constituição. Esta é a origem da tragédia.
Nas circunstâncias atuais, o tempo trabalha contra o eleitor. Se a morte anunciada do governo Temer ocorrer até 31 de dezembro de 2016 o sucessor será escolhido pelo voto direto, em urna. A partir de 1 de janeiro de 2017, diz a Constituição, a escolha se faz pelo Congresso. Neste caso, pode ocorrer uma etapa da história que envolve uma situação clássica das tragédias políticas -- todo mundo sabe como começa e ninguém consegue adivinhar como termina.
Mais do que nunca, as forças que, do alto de nossa pirâmide social e política, manipulam os fios invisíveis de quem planeja dividir o país entre patetas e fantoches, tudo farão para impedir o reencontro da maioria com seus direitos.
Este é o jogo a partir de agora.
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