Enquanto na quarta-feira varrem-se as cinzas do Carnaval de tradição, animado pelos tambores do maracatu, pelos blocos de rua seguidos por uma multidão de foliões fantasiados e pelas misturas entre afoxé, samba e frevo, o Festival Jazz & Blues ainda resiste mais um pouco. Aos que desacreditam que amores nascidos durante a festa possam subir das praias às serras, pelo menos o encanto de Guaramiranga pode descer até Fortaleza.
A agenda na Capital fecha a celebração dos 15 anos de atividade do Festival, de hoje até sábado, pinçando e trazendo algumas apresentações no mesmo formato em que aconteceram na serra. A programação musical acontece no Teatro Via Sul e no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, enquanto o Café no Tom, bate-papo descontraído entre público e artista, terá continuidade no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).
O intercâmbio entre músicos e apreciadores em Guaramiranga através de conversas ao nível dos olhos e não dos palcos envolveu nomes como o professor das Residências Artísticas Ajurinã Zwarg, o pianista e arranjador Tito Freitas e o violinista Ricardo Herz. Na edição de Fortaleza, o debate é na quinta-feira, a partir das 16h, com Robertinho de Recife, aclamado desde a década de 70 como um dos grandes magos da guitarra no Brasil. A mediação fica por conta do jornalista Helton Ribeiro, editor da revista Blues'n'Jazz. A entrada é gratuita.
Big Band
Quem dá início aos trabalhos performáticos é a Big Band da Unifor, hoje, às 21 horas, no palco do Teatro Via Sul. O grupo formado por 16 músicos (intérpretes de cinco saxofones, quatro trompetes, quatro trombones, uma bateria, um baixo e um piano) utiliza uma das mais tradicionais formações da história do jazz, popularizada entre as décadas de 20 e 50. Regida pelo maestro Robson Lima, com formação musical pela Universidade Estadual do Ceará e pelo Conservatório de Briançon, na França, a Big Band selecionou um repertório bem plural para as apresentações dentro do Festival Jazz & Blues, sua estreia fora dos eventos da própria universidade. O show traz arranjos modernos de obras de grandes músicos brasileiros, frevo e trilhas sonoras de clássicos do cinema, como os temas de "Missão Impossível" e "A Pantera Cor de Rosa".
A Big Band aquece o palco para Edu Lobo, um dos maiores compositores vivos da música brasileira. O show pautado nos 70 anos de vida do também instrumentista e cantor é uma compilação do seu legado, da carreira sólida, produtiva e também revolucionária. Herdeiro da bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto, Edu encabeçou a transição do gênero para a que depois foi batizada de MPB, abrindo a cabeça e acolhendo inspirações influenciadas pelo jazz e pela música clássica. Autor de clássicos como "Ponteio", "Arrastão" e "Upa Neguinho", Lobo é ídolo de outros ídolos, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Encerramento
Autor do hit "Baby Doll de Nylon", auge de sua apresentação no Festival Jazz & Blues no Maciço de Baturité, Robertinho de Recife já tocou, compôs ou produziu artistas como Fagner, Amelinha, Belchior, Chico Buarque, Gal Costa e Xuxa. Há quase 25 anos sem subir aos palcos, o músico fugiu um pouco da carreira de produtor à qual estava radicado para revistar e também reformular o show Rapsódia Rock, título também de seu último álbum, originalmente orquestrado pelo produtor dos Beatles George Martin. Mesclou no repertório músicas clássicas do erudito como Beethoven, da música popular brasileira como Aquarela do Brasil e Brasileirinho, além dos próprios sucessos em versões mais puxadas para o rock. A apresentação tem, inclusive, momentos de atualização tecnológica e performática através de um solo em um aplicativo de guitarra para tablet, número desenvolvido pelo artista enquanto se recuperava de um acidente. É esse o espetáculo que encerra a programação Jazz & Blues em Fortaleza, na sexta-feira, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, a partir das 19h30. A abertura é de responsabilidade da cantora cearense Lídia Maria, que introduz ao público canções de seu novo CD como os jazzs "A sós" e "Alma Leve" e o blues "Dança na Chuva", além de homenagens ao seu ídolo Tom Jobim, compositor de grande influência e referência para sua musicalidade.
Na mesma noite, só que às 21h no Teatro Via Sul, o harpista colombiano Edmar Castañeda volta a se apresentar em trio com David Silliman (bateria/percussão) e Marshall Gilkes (trombone). O show conta também com a participação especial da cantora Andrea Tierra, esposa do músico, cujo trabalho é pontuado não só pela poesia colombiana, mas também pela mistura dos gêneros musicais latinos com o jazz. Considerado pelo jornal The New York Times como "quase um mundo em si mesmo", Castañeda se destacou pela originalidade de buscar inspiração nos ritmos tradicionais de seu país para impulsionar suas apresentações e iluminar suas composições.
Programação
Hoje
16h - Café no Tom, com Robertinho de Recife (PE), no CCBNB
21h - Big Band Unifor (CE) / Edu Lobo (RJ), no Teatro Via Sul
Sexta-feira
19h30 - Lidia Maria (CE) / Robertinho de Recife, no Anfiteatro do CDMAC
21h - Edmar Castañeda Trio com participação de Andrea Tierra (Colômbia/EUA), no Teatro Via Sul
Sábado
Cuca Mondubim
15h - Café no Tom, com Elpídio Nogueira
18h - Show - Casa do Blues
Preços
Teatro Via Sul: R$ 40 e R$ 20 (meia). Anfiteatro do CDMAC: R$ 30 e R$ 15 (meia). Contato: (85) 3262.7230
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