“A palavra tange a imagem em mim”, sentencia Rian Fontenele no vídeo de apresentação de sua nova mostra individual, A Restauração de uma Ausência. A afirmação, que soa quase como frase de efeito, é o resumo de um trabalho de três anos que ele apresenta às 19 horas de hoje a convidados, na Caixa Cultural. De de amanhã até 18 de maio, a mostra estará aberta ao público.
“Sempre tive a literatura como base do que faço. A palavra sempre foi muito mais importante, ela é narrativa e por isso meu trabalho é narrativo”, explica o artista plástico de 36 anos que assume, mais do que em qualquer outra exposição, a influência da palavra em sua obra.
Mas a palavra de que fala Rian não é qualquer uma. É aquela da poesia de autoras como Orides Fontela, Hilda Hilst, Paul Celan: precisa, sintética, que revela e ao mesmo tempo não encerra. Essa palavra é a “pedra de lastro”, como ele gosta de ilustrar, a sustentação do enredo que percorre as memórias mais íntimas do artista expostas em quase cem peças, entre pinturas, desenhos e instalações.
Ruptura
A série inédita traz de volta o pincel, em vez da espátula que Rian costumava usar, e indica a ruptura com as cores presentes em trabalhos anteriores. Uma busca por algo novo que parte da exploração do preto, do branco e do cinza como o tom das telas. Assim, o louvor à sombra dá espaço à incidência da luz.
“É uma nova fase. Eu trabalhava a pintura como uma escultura. Por isso as grandes dimensões. Agora o desafio é falar com o mínimo de elementos. Essas pinturas são grandes aquarelas, faço um trabalho inteiro com uma só tinta, sem cor, e é uma dificuldade muito grande porque é fácil seduzir pela cor. Renego isso, vou pra pintura sóbria, que faz um convite para o mergulho em si, como o silêncio, a ausência”, explica Rian, também curador da mostra.
A escolha pelo nanquim aguado, que limitava o trabalho do artista a poucas pinceladas por dia em três a quatro minutos, porque era necessário esperar a tela ficar totalmente seca, diz de uma lição aprendida com a poesia: a síntese. “É isso que eu tento fazer com essa pintura. Falo de uma ausência de cores, de matéria, o caminho pra uma pintura nova.”
Os desenhos, além de revelar o percurso do artista nesse novo momento da carreira de quase 20 anos, desnudam a pintura figurativa, assumida por Rian com ainda mais rigor e como expressão da arte contemporânea do Ceará.
Na forma de mosaicos, o artista tenta materializar as palavras com instalações em gesso, dispondo em baixo relevo o que chama de poemetos. Pequenas sentenças como “Toda palavra lavra” ou “O silêncio de vidro”, que registram a tecitura das obras. “E a tecitura é o mais importante”, acredita Rian.
De Fortaleza, a mostra segue para Recife, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
SERVIÇO
Abertura de “A Restauração de uma Ausência”, exposição de Rian Fontenele
Quando: hoje, às 19h, para convidados, e de amanhã, 13, a 18 de maio
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (avenida Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Gratuito.
Outras informações: (85) 3453 2770
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