As obras do gaúcho Andrei Thomaz e do mineiro Fabio Baroli chegam nesta semana a Fortaleza para diversificar as exposições em cartaz na cidade. Legendas de filmes reorganizadas de acordo com o momento em que são exibidas, criando a sugestão de infinitas e simultâneas narrativas, e pinturas que revisitam o conhecimento matuto da região do Triângulo Mineiro ilustram, até o dia 30 de abril, os espaços da nova sede do Centro Cultural Banco do Nordeste.
Excertos
Desenvolvido em 2009 como um trabalho para a internet, "Somewhere in Time", do artista visual Andrei Thomaz, utiliza como matéria-prima as legendas de filmes. Textos e horas são impressos em postais, que formam um painel de narrativas incipientes, sugerindo histórias que não se definem. É possível ler a obra em qualquer direção e ter a impressão de que os textos fazem parte de um todo coerente.
"O trabalho usa esses arquivos para construir narrativas sem as imagens, num fundo preto, e você não sabe de onde as legendas foram extraídas. Muita gente tenta adivinhar de quais filmes vêm os trechos. Extraí esse material de dez produções cinematográficas distintas", explica Andrei.
Os postais da exposição também formam pilhas, podendo ser levados pelo público. No endereço impresso neles (http://andreithomaz.Com/arte/somewhere/), é possível deparar-se com uma vasta grade contendo inúmeras "horas". As "minutagens" representam o momento em que um diálogo do filme começa a ser exibido, e são extraídas das legendas carregadas no início do trabalho.
Ao clicar em alguma delas, o espectador assiste a uma sequência de textos, exibidos na parte inferior da tela e centralizados de maneira parecida com a forma como as legendas são exibidas no cinema. Complementando o trabalho "Somewhere in time", que já passou por Curitiba, no Paraná, Andrei traz uma novidade para Fortaleza. Trata-se do "Jogo da Vida". A instalação apresenta dezenas de narrativas possíveis de ocorrerem em um jogo de tabuleiro.
Mesmo que ele utilize uma série de simplificações - todos os jogadores casam, todos terão filhos ao longo da partida, todos são heterossexuais -, a vasta gama de histórias que podem ser criadas instiga a curiosidade do público.
Ao exibir apenas os textos das casas do tabuleiro, na sequência em que são visitadas por um jogador, propõe-se ao espectador que preste atenção nas narrativas criadas pelo jogo, fruindo-o de maneira distinta da de um jogador preocupado com a vitória.
Antropomatutologia
Somando-se à exposição de Andrei, Fabio Baroli traz para o CCBNB a nova série de pinturas "Muito pelo ao contrário", produzida em 2013. Nela, o artista retrata a figura do matuto mineiro, traçando e pontuando seu implícito. "Antropomatutologia" é o termo que ele utiliza para denominar sua pesquisa.
"Nessa compilação, a sagacidade dos trocadilhos que dão forma a narrativa imagética traz não somente o resgate de uma cultura que, na grande maioria das vezes, nos foge à compreensão mas, acima de tudo, aponta a delicadeza das amarras de seu universo pessoal", destaca o curador, Renato Silva. Com quatro obras dípticas - duas pinturas formando uma só -, Baroli é realisticamente sutil e por isso, pede um olhar sensível. "Uma contradição que se afina imediatamente ao humor temático da exposição. Afinal, o trocadilho é, acima de tudo, oposição", completa o curador da mostra.
Mais informações:
Exposições "Somewhere in Time" e "Muito pelo ao contrário". No Centro Cultural Banco do Nordeste (R. Conde D'eu, 560, Centro). Até 30 de abril, de terça a sexta, das 10h às 20h e aos sábados, das 10h às 19h. Grátis. Contato: (85) 3464.3108
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