A famosa história da Arca de Noé, presente no livro Gênesis da Bíblia, é uma das primeiras narrativas religiosas contadas às crianças. Mas se engana quem pensa que a nova versão de "Noé", de Darren Aronofsky, segue a mesma linha, afinal, o diretor de "Cisne Negro" (2011) é conhecido por seus personagens conflituosos.
Embora mantenha a essência das escrituras, com símbolos como a Arca, os animais, o primeiro arco-íris e a pomba branca, a narrativa ganha visão perturbadora. Na história, Noé (Russell Crowe), neto de Matusalém (Anthony Hopkins) e descendente da linhagem de Abel, é o último homem justo em um mundo dominado pela maldade.
Durante um sonho, ele recebe uma missão divina. O Criador destruirá tudo com um grande dilúvio e caberá a Noé dar continuidade à vida na Terra, reunindo, em uma imensa arca, casais de animais de todas as espécies.
Ele aceita a vontade de Deus, fazendo tudo o que for necessário para que ela se cumpra, seja lutando contra o terrível Tubal-Caïn (Ray Winstone) e seus seguidores, seja passando anos junto à esposa Nameeh (Jennifer Connelly), aos filhos Sem (Douglas Booth), Cam (Logan Lerman) e Jafé (Leo McHugh Carroll) e à adotiva, Ila (Emma Watson) construindo a imensa arca e cuidando dos animais.
Misto de referências
Embora seja uma das fábulas mais conhecidas, pouco se sabe acerca de seus detalhes e de como viviam Noé e sua família. O desenvolvimento dessa parte ficou a cargo de Aronofsky, que modificou alguns elementos e incluiu outros. Alguns funcionam bem, outros nem tanto.
Um dos aspectos positivos é o desenho do perfil psicológico dos personagens, principalmente o de Noé. Fiel e obstinado, ele não questiona sua missão até o momento em que o diretor dá seu toque pessoal à obra, mostrando outra face do personagem que questiona: é justo salvar apenas a própria família e deixar a humanidade sucumbir?
A grandiosidade da produção já era anunciada com 125 milhões de dólares e duas arcas em tamanho real. O sistema de bombas de água fizeram com que 30 dias de "chuva intensa" fossem possíveis. O que não pôde ser real, claro, foram os animais, colocados em cena por computação gráfica, o que em certos closes pode parecer estranho.
Aronofsky peca mesmo ao tentar trazer para o filme uma mistura de gêneros, desde a fantasia (com direito à gigantes de pedra de gosto duvidoso), épico, suspense e drama. A trilha sonora também chega a ser repetitiva e melodramática demais. E a fotografia segue o mesmo caminho com bons e maus momentos.
Dentre as atuações, destaca-se a Nameeh de Jennifer Connely, principalmente nos momentos críticos da trama, nos quais o Noé de Russell Crowe ganha mais fôlego. Logan Lerman também faz boas participações. Com certo toque bizarro, "Noé" não chega a ser ruim e até traz sua contribuição para uma nova visão sobre a história religiosa.
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