A ampla sala do Cine São Luiz é um espaço que permanece no imaginário afetivo dos cearenses, mesmo com o espaço fechado desde julho de 2010. Desde os anos 1950, muitas gerações de cinéfilos viveram ali as primeiras emoções oferecidas pelas projeções de filmes na tela prateada ou grandes momentos pessoais com entes queridos.
Mesmo após 56 anos fazendo parte do cotidiano da cidade - e sem exibir filmes, devido as obras de restauro, o local continua oferecendo surpresas a quem anda por ali. A equipe de restauração da pintura do teto do equipamento cultural da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) descobriu que as colunas - que tomam boa parte das paredes e se estendem até o teto - foram pintadas originalmente com uma tinta dourada. Há anos ela havia sido coberta por uma camada marrom.
A descoberta foi feita semana passada, quando finalizado processo de prospecção das cores originais para realizar a reintegração da camada pictórica do local. Ontem, foi iniciado o processo de limpeza química nos detalhes em gesso do teto, primeira parte do processo, que se estenderá às paredes e ao restante da sala. Todas as etapas devem ser concluídas até outubro deste ano, prazo estabelecido pela Secult para a entrega do equipamento cultural. A obra está orçada em R$ 15 milhões.
"Na prática, identificamos o DNA da cor original e, agora, o nosso desafio é identificar o código internacional e a técnica mais adequada para que estas colunas voltem ao ter o dourado metálico que tinham nos anos 1950", destacou o restaurador Giovane Castelian Morais.
Segundo os restauradores, as cores originais identificadas no cinema foram marrom, ocre, branco, bege, azul e laranja. Entretanto, novas cores podem ser identificadas com a prospecção de outros lugares, de acordo com a equipe de restauração.
O ano e o motivo da mudança de cores nas cores das colunas são difíceis de precisar. Segundo o memorialista Ary Bezerra Leite, autor de livros como "A Tela Prateada" e "Fortaleza e a Era do Cinema", em que explora o universo da sétima arte na capital cearense, todos os registros fotográficos da época são em preto e branco. "Depois de pronto, o cinema demorou 20 anos para ser inaugurado. Nesse meio tempo, o espaço pode ter sido alterado pelo próprio Severiano Ribeiro (primeiro administrador do local)", diz o memorialista.
O hall de entrada do cinema, todo revestido em mármore de Carrara, também está sendo restaurado, com peças sendo recolocadas. Já os detalhes em bronze das escadarias foram retirados para passarem por nova pigmentação e recuperarem a cor original. Os três lustres de cristais - importados da antiga Tchecoslováquia - foram retirados do local e também passarão por processos de limpeza e revitalização.
Teatro
Prevendo a utilização do espaço também como teatro, será iniciada esta semana a construção dos rudimentos do palco, garantindo o equipamento necessário da mecânica cênica. A parede de alvenaria, que antes escondia o até nunca utilizado palco, já foi derrubada. No total, a área cênica do Cine São Luiz terá 300 m², sendo 150 m² apenas da área visível pelo público. O local ainda possui fosso para orquestra.
O espaço que antes funcionava como coluna para o antigo palco foi adaptado para dar lugar aos vestiários e camarins que serão utilizadas pelas companhias teatrais. Um elevador dará acesso a salas localizadas acima do palco, que serão utilizadas para apoio técnico. Outra sala, também localizada nos andares superiores, está sendo adaptada para servir como local de ensaio, para grupos e companhias.
As antigas poltronas do cinema foram retiradas e boa parte delas doadas à entidades públicas. Foram elas: Prefeitura Municipal de Pentecoste (60 cadeiras), Centro Cultural Banco do Nordeste (20 cadeiras), Prefeitura Municipal de Baturité (150 cadeiras), Associação Vida Manara (40 cadeiras), Associação Cultural dos Amigos do Museu da Boneca de Pano (40 cadeiras), Prefeitura Municipal de Miraíma (70 cadeiras) e Prefeitura Municipal de Iguatu (120 cadeiras). Segundo a Secult, as novas poltronas já foram compradas e aguardam apenas a finalização de restauração das tintas do cinema para serem instaladas.
De acordo com o secretário da Cultura, Paulo Mamede, e com o engenheiro residente da obra Construtora Granito Ltda, José Cardoso, está mantido o cronograma de entrega do novo São Luiz, como cineteatro, até outubro deste ano.
Cinema ganhará equipamento 3D
Com a reforma do Cine São Luiz, o local passará a receber modernos equipamento de projeção, adequado para a nova leva de filmes, quase todos distribuídos em formato digital. Uma das novidades é a exibição de filmes em 3D. Sem perder a tradição de vista, o cinema ainda continuará com dois projetores analógicos. Já os antigos projetores serão doados ao Museu da Imagem e do Som (MIS).
O local contará com 23 amplificadores de potência, 48 caixas acústicas frontais em duas vias, 5 caixas acústicas frontais e 6 subwoofers. Além desses equipamentos, a Secult afirma que estão assegurados todos os equipamentos de áudio, vídeo e iluminação necessários à função teatro, recebendo espetáculos de dança e música. Estão inclusos itens como mesa de som/mixer digital 64 entradas mono e 32 saídas, mesa de luz modular, 214 projetores de luz e dois canhões seguidores com zoom.
A decoração original em gesso do teto e das paredes laterais foram feitas por Osório Pereira e Marcelino Guido Budini; a pintura, pela empresa Shaffer e Harvath; e projeto do cinema, pelo do arquiteto Humberto da Justa Menescal. (LB)
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