É final de tarde, e dona Marly Carvalho atravessa a Praça Cristo Redentor em direção ao Seminário da Prainha. Em sua trajetória até o templo religioso, a professora de 65 anos passa em frente à construção quase centenária que hoje apresenta fachada desgastada, grades enferrujadas e mato crescido. “O Teatro São José está aí, abandonado, mas já foi muito bonito, com muita peça boa”, puxa o fio da lembrança. “Eu ia sempre.”
Prestes a completar 100 anos, o São José é palco de memória e ruína. Desapropriado pela Prefeitura de Fortaleza em março de 2010 para cumprir a nobre função de se tornar teatro municipal, o equipamento, antes fundamental para cena artística cearense, continua abandonado. Do lado de fora, o olhar não demora a identificar o descaso. Dentro, a situação se revela pelo olfato: mofo, poeira, cocô de gatos, únicos frequentadores do prédio.
Responsável pelo equipamento, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) diz que o Teatro São José está em “fase de prospecção e estudos de restauro”. O POVO apurou, entretanto, que uma equipe da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, auxiliada pelo professor de arquitetura Fred Barros, até esteve no teatro, onde começou o estudo do prédio. Mas não passou disso. A prospecção, de acordo com a pasta, pretende descobrir as cores originais do teatro, os desenhos feitos à mão, que são marcas desde a inauguração.
Titular da Secultfor, Magela Lima reconhece que o “teatro não possui ainda as condições adequadas para o seu efetivo funcionamento”. O gestor promete reabertura para o ano que vem. “A expectativa é de que o teatro seja reinaugurado nas comemorações do seu centenário, em 2015”, promete.
Quanto ao montante investido na reforma, Magela Lima responde que, “tendo em vista o estágio de prospecção e estudos históricos do prédio, o orçamento total da obra ainda não foi finalizado”. O secretário informa que há previsão de investimento de R$ 900 mil do Governo do Estado para o financiamento do chamado “complexo do Teatro São José”, que inclui a praça e o prédio anexo ao teatro.
Diretora da companhia teatral Palmas, Francinice Campos conhece o Teatro São José há mais de 30 anos. “Sempre foi um teatro muito desprezado”, critica. Para ela, o espaço é “belíssimo”, mas já não desperta tanto interesse. “É um teatro utópico, um local extremamente abandonado”.
SAIBA MAIS
Em 2012, durante evento de “reinauguração” do Teatro Carlos Câmara, em que foi anunciada a “virada cultural” do Governo do Estado (pacote de investimentos que previa orçamento na casa dos R$ 118 milhões para ações culturais no Ceará), o governador Cid Gomes demonstrou interesse em realizar reformas no Teatro São José e na Praça Cristo Redentor. Após negociações entre Governo e Prefeitura, ficou definido que a gestão do espaço segue sob a responsabilidade do Município.
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