A Copa das Copas passa pelos dribles de Neymar e companhia, mas também pelo sonho do menino que dorme agarrado à bola e dos que não dispensam a pelada de fim de semana. É ainda a das remoções, das manifestações encerradas em violência, da cidade-para-gringo-ver. O maior evento esportivo do mundo, capaz de despertar paixão e revolta na mesma intensidade, é a linha-mestra da exposição Copa com arte, que será aberta na Galeria Vicente Leite a partir das 20 horas de hoje.
Reunindo oito artistas, a mostra coletiva traz 16 obras que retratam da paixão mais pueril pela brincadeira com a bola - aquela que faz surgir craques dos campos de terra e alimenta a paixão cotidiana pelo futebol no Brasil - ao clima nem tão festivo trazido pela Copa do Mundo realizada aqui. “A galeria está dividida, tem obras mais questionadoras e outras que fazem uma alusão estética ao evento, à beleza dos lances”, diz o curador da exposição e também artista plástico Dante Diniz.
Esta edição do projeto, que começou na Copa de 2006, está diferente das anteriores, conforme Dante. Embora traga “o lado artístico e poético que existe no futebol”, observa o curador, vem carregada de um tom mais crítico. É o caso do painel assinado pelo ilustrador do O POVO, Carlus Campos, que traz uma interpretação do evento “mais pessimista”, como ele mesmo define.
País de contrastes
Pintada direto na parede da galeria, a ilustração em proporções generosas (4m x 3,5m) traz um misto de torcedor e manifestante. O personagem, carregado num tom vermelho, recebe pinceladas do verde e do amarelo da bandeira, lembrando sua mistura. “É uma síntese disso que tá acontecendo (no Brasil), dessas manifestações”, diz Carlus, sem encerrar os sentidos possíveis da obra.
Além dele, o grafiteiro Gleison Luz, que colore e ressignifica muros cidade afora, traz para o espaço da galeria seus meninos deitados. Um deles, sobre a tela, tem a cor marrom do chão de terra onde muitas crianças da periferia conhecem o futebol. O outro, pintado com giz na madeira de duas portas encontradas na rua, sonha abraçado com a bola. Segundo o artista visual, a ideia foi trazer a simplicidade, já presente em seu trabalho, como elemento relevador da Copa que o interessa, aquela sem o glamour da Fifa. “É muito uma reflexão, um olhar voltado pra comunidade mais do que pro evento”, acrescenta ele.
Delicadeza e deboche
A força desses trabalhos convive ainda com os questionamentos quase abstratos de Silvano Tomaz, que querem passar despercebidos, mas estão lá; a delicadeza dos florais verde-amarelo de Priscila Sobreira, arquiteta que também pinta nas ruas, descoberta por Dante ao acaso; e o deboche de Cláudio Cesar, que retrata a confusão estereotipada do Brasil. Há ainda os personagens de Silvano Tomaz e Expedito Lima, brasileiros comuns que vivem o futebol em seu estado mais natural e nem por isso menos arrebatador. Mario Sanders, outro artista que transita entre o plástico e o gráfico, remodela ídolos da seleção brasileira com o digital.
A mostra segue em cartaz até o próximo dia 4 de julho.
SERVIÇO
Abertura da exposição Copa com Arte
Quando: Hoje, às 20 horas
Onde: Galeria Vicente Leite (Rua Almirante Maximiano da Fonseca, 1395 - Engenheiro Luciano Cavalcante - dentro da Faculdade 7 de Setembro)
Gratuito.
Visitas de segunda a sexta-feira, de 9 às 12 horas e de 16 às 21 horas e, aos sábados, de 9 às 12 horas. Para agendar visitas de grupo: 4006-7643
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