“Fortaleza tem muito muro branco. Temos poucos lugares pintados”, assegura Cecília Shiki, membro do Selo Coletivo, grupo feminino de arte urbana em atividade na Capital desde 2009. Cecília é umas das “oficineiras” da 1° Semana de Arte Urbana (SAU), que começa amanhã e vai até dia 7 de junho. Além de oficinas, o evento conta também com debates e intervenções artísticas.
Realizada pela Escola Porto Iracema das Artes, a SAU abrange o Simpósio Internacional de Arte Urbana, cuja programação recebe pesquisadores brasileiros e portugueses para debate sobre formação e estudos em torno da arte de rua.
Grafite, lambe-lambe, estêncil, stickers, instalações e outras manifestações e estéticas dos meios urbanos terão espaço na sede do Porto Iracema. Uma das convidadas do evento é a professora Glória Diógenes (UFC), cofundadora da Rede de Pesquisadores Luso-Brasileiros em Arte de Rua. Artistas como Narcélio Grud, Doug e Filtro de Papel também marcam presença.
A socióloga Silvia Câmara, referência internacional no debate de institucionalização da arte de rua, e o professor de antropologia visual Ricardo Campos, que propõe discussão sobre “Por que pintamos as cidades”, são dois dos destaques do seminário.
A rua como tela
“As cidades são pintadas porque, na verdade, são uma grande tela de experimentação prática. A arte urbana é o modo de deixar fluir a multiplicidade de estéticas que compõe a paisagem cultural”, afirma Glória Diógenes. “Ela flui no lugar do movimento urbano, mas também pode ser invisível, pois a maior parte das pessoas vive a cidade com velocidade”, analisa.
Cecília Shiki ministrará a oficina de lambe-lambe (papel colado artesanalmente em espaços urbanos). Para ela, o artista visual “pinta” a cidade pela necessidade de produzir e expor seus trabalhos em espaços que não sejam as galerias e museus convencionais. “Vejo que, aqui em Fortaleza, as pessoas estão aceitando mais a arte de rua, o Festival Concreto, pelo o que eu vi, gerou uma reação positiva”, diz, referindo-se ao evento que tingiu a Capital de polêmica em novembro passado ao grafitar pontos como o Dragão do Mar e o Farol do Mucuripe.
Diretora do Porto Iracema das Artes, Elisabeth Jaguaribe defende que é preciso maior diálogo com as “experiências de rua, que mobilizam grandes centros urbanos no mundo inteiro”. “São experiências para as quais não podemos fechar os olhos ou classificar de um jeito ou de outro. As reduções em torno da arte de rua minimizam a complexidade desse movimento artístico tão importante no mundo inteiro”, opina.
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