Apaixonado por futebol desde a infância, quando se divertia jogando bola nos terrenos de várzea da periferia de Fortaleza, Airton de Farias sabia que não teria muito futuro dentro das quatro linhas. “Até que fiz meus golzinhos nos colégios e nas faculdades, mas não era bom jogador”, admite, entre risos. Longe dos campos e perto dos livros, foi por meio da História que ele conseguiu retomar a antiga paixão.
Em História das Copas do Mundo - Futebol e Sociedade (Armazém da Cultura), livro que o historiador lança às 19 horas de hoje, na Livraria Cultura, Airton resgata os personagens e as narrativas que pairam sobre os gramados e fora deles desde o surgimento do futebol. A intenção é audaciosa, como anota no prefácio da obra dividida em dois volumes que contam juntos mil páginas: “entender a História da humanidade, entre o final do século 19 e o começo do 21, através da modalidade esportiva mais popular do planeta”.
Entre o cuidado acadêmico de uma pesquisa que levou três anos e a didática do professor de pré-vestibular acostumado a inventar a roda para prender a atenção dos alunos, o livro, dividido em 23 capítulos (que podem ser lidos de forma independente), relaciona diferentes processos históricos ao futebol. “Engana-se quem pensa que o futebol seria apenas ‘pão e circo’. Vários movimentos sociais de resistência aconteceram em arquibancadas, torcidas organizadas, competições esportivas”, ressalta Airton.
Ele destaca dois exemplos recentes. Um deles foi a participação das torcidas organizadas de times do Cairo no enfrentamento da polícia, o que acabou por levar à queda o ditador egípcio Hosni Mubarak. No Brasil, lembra o autor, os protestos do ano passado e deste “evidenciam como é questionável a associação mecânica futebol-ópio do povo”.
Assim, através da relação futebol-capitalismo, a obra investiga diversas facetas do esporte por meio da história de cada Copa do Mundo. Mas não apenas isso, o livro traz outras reflexões sobre o futebol, como o contexto em que ele nasceu, a revolução industrial inglesa, passando por modelos políticos os mais distintos, feito o soviético, o nazista e o fascista, que usaram igualmente a modalidade em favor de suas ideias, até o processo de comercialização atual que o caracteriza hoje.
Ilustrações
Com apresentação luxuosa do jornalista esportivo e cientista social Juca Kfouri, para quem “não há em língua portuguesa nada igual”, a edição vem acompanhada ainda do traço de Daniel Brandão. Quadrinista e ilustrador dos mais importantes no Ceará, ele resume em imagens, no começo de cada capítulo, as muitas histórias contadas pelo autor. “Uma das mais perfeitas tabelinhas da história do futebol mundial”, elogia Kfouri.
Inspirado em cartazes dos primeiros jogos, Brandão trabalha diversos conceitos de composição de forma monocromática - uma novidade e um desafio para o artista, assim como sintetizar as informações trazidas nos capítulos. “Esse foi um grande desafio, mas acho que minha experiência com quadrinhos ajudou muito. Minha profissão sempre exigiu muita pesquisa e capacidade de síntese. Basicamente, usei isso ao meu favor”, diz ele, que também adora futebol.
SERVIÇO
Lançamento de História das Copas do Mundo - Futebol e Sociedade, de Airton de Farias
Quando: Hoje, às 19 horas
Onde: Livraria Cultura (Av. Dom Luis, 1010 – Aldeota)
Quanto: R$ 85 (valor unitário)
Editora: Armazém da Cultura
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