Encomendado pela Abact, a Associação Brasileira de Arte Contemporânea, que reúne 46 galerias do País, o livro ABC Arte Contemporânea Brasileira foi um projeto polêmico. Alguns galeristas não se sentiram representados na seleção de Adriano Pedrosa e Luisa Duarte, organizadores da publicação.
Isso fez a própria Abact, que conseguiu o patrocínio, abandonar o projeto. Mas, após tanto debate, o que resta?
ABC é, sem dúvida, o melhor compêndio já editado sobre a produção nacional, mas a qualidade se deve à ausência de similares, o que não desmerece o livro.
Como muitas outras publicações no exterior, como a série “Cream”, da editora Phaidon, ABC é uma espécie de exposição em papel, na qual um grupo de curadores elege um time de artistas.
No caso da nova publicação, são 86 artistas escolhidos por 12 curadores, dez brasileiros, como Lisette Lagnado e Moacir dos Anjos, e dois estrangeiros, Gerardo Mosquera e Julieta González.
Na seleção dos contemporâneos, há um único princípio: artistas que nasceram após 1960. A organização do livro respeita essa ordem, indo de Beatriz Milhazes, a mais velha do grupo, a Deyson Gilbert, nascido em 1985.
Alguns artistas são vistos em seis páginas, outros em quatro, e os demais em duas, um critério não muito igualitário e que os separa por importância, segundos os organizadores: Milhazes, por exemplo, tem seis, Lucia Koch, quatro, e Gilbert, duas.
Contudo, o mais estranho mesmo é a inclusão de artistas estrangeiros, uma espécie de reafirmação da tese de Pedrosa no Panorama da Arte Brasileira, organizado por ele no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2009.
Naquele ano, Pedrosa selecionou apenas estrangeiros, com exceção de Tamar Guimarães, que vive no exterior. Fazia sentido, então, problematizar o que é arte brasileira.
Agora, a proposta chega esvaziada. Afinal, o que artistas como o argentino Jorge Macchi e o cubano Carlos Garaicoa mais têm em comum com os brasileiros são as galerias que os representam.
Mesmo assim, a seleção é representativa e, ao incluir uma pequena entrevista com cada artista, o livro dá uma ótima introdução a quem quer conhecer a atual cena contemporânea.
Outro ponto positivo é a transcrição de uma troca de mensagens entre os curadores, que aponta alguns dos dilemas dessa cena. Entre eles, o próprio livro. (Fabio Cypriano, da Folhapress)
Serviço
ABC - Arte Contemporânea Brasileira
Organizadores: Adriano Pedrosa e Luisa Duarte
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 90 (400 págs.)
SAIBA MAIS
Dois cearenses figuram na lista de 86 artistas eleitos pelos 12 curadores. São eles o escultor Efrain Almeida e o cineasta Karim Aïnouz. O trabalho de ambos pode ser conferido em Fortaleza. O primeiro integra a exposição Carneiro, que será aberta amanhã, no Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar. O segundo, está com o filme Praia do Futuro em cartaz, no cinema Dragão-Fundação.
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