Um professor de História com uma vida monótona e certinha se depara, por acaso, com um sósia entre os coadjuvantes de um filme. A descoberta o perturba tanto que ele empreende uma busca desenfreada de seu duplo, e isso lhe acarreta uma série de mudanças na vida.
Esse é o mote da história contada por José Saramago (1922-2010) no romance O homem duplicado, de 2002, agora adaptado pelo diretor canadense Denis Villeneuve (Incêndios e Os suspeitos). A produção, que tem o roteiro assinado por Javier Gullón e o ator Jake Gyllenhaal interpretando os protagonistas, foi liberada pelo escritor pouco antes de sua morte. O filme entra em cartaz hoje no Cinema do Dragão-Fundação Joaquim Nabuco.
Com o mesmo título do romance, o longa de Villeneuve, porém, não faz uma mera transposição da obra literária para a telona. Na cerimônia de lançamento de O homem duplicado - Enemy, no título original -, a viúva do Nobel de Literatura, que aprovou a adaptação, alertou: o leitor talvez não encontre o livro, mas Saramago está lá.
Provocação
Para Camila Vieira, crítica de cinema, jornalista e doutoranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a obra de Villeneuve é enigmática.
“As imagens são contaminadas por uma atmosfera de mistério; há um desenvolvimento da questão do duplo pelo que ele pode provocar de estranhamento. Tem também um sentimento de insatisfação e de desconforto, de que as coisas poderiam ser diferentes e como a possibilidade de mudar pode ser o fracasso de uma experiência. É um filme que me instigou bastante”, elogia Camila.
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