Os primeiros registros de bandas de heavy-metal no Ceará remontam à década de 1980, com grupos como Leprous e Asmodeus realizando pequenas apresentações e gravando álbuns de estúdios. E se poucos são os registros fonográficos dessa época, menor ainda são os registros fotográficos de como as atividades aconteciam.
Buscando remediar a "falta de memória" da cena musical cearense, um grupo de fotógrafos decidiu arregaçar as mangas e começaram a fotografar bandas "que ninguém conhecia", como eles mesmos caracterizam.
Após cinco anos de atividades, o trabalho do coletivo Arquivo Underground será exibido em 33 fotos, em exposição aberta ao público, no Shopping Benfica. As fotografias demonstram sinais de maturidade de Gandhi Guimarães, um dos fundadores da iniciativa, e reforça a ideia de "utilidade pública" apregoada pelos amigos quando começaram a registrar as atividades na periferia da cidade como exercício de oficina promovida pela Escola Vila das Artes, equipamento de formação de Prefeitura de Fortaleza.
Audiovisual
"Alguns locais em que aconteciam shows não existem mais. Se não fosse por essas fotos, é bem capaz da memória desses lugares simplesmente desaparecere no tempo", diz o fotógrafo. O canal de vídeos do coletivo no YouTube reúne 44 vídeos produzidos durante os cinco anos de existência.
Gandhi Guimarães e Anderson Rodrigues - dois dos fundadores da empreitada - participaram de festivais e transformaram toda a emoção dos shows em vídeo. O objetivo do Arquivo Underground é mapear, registrar e emitir, de forma contextual e audiovisual, o movimento "headbanger" (batedores de cabeça, em tradução livre) na periferia de Fortaleza. "O trabalho de muitos dos vídeos é bem investigativo, procurando identificar os agentes culturais de cada bairro", detalham.
Segundo Gandhi Guimarães, o público vem aumentando no decorrer dos anos. Um dos impulsos para esse crescimento são as mídias sociais.
Além das bandas que estão no palco, Gandhi Guimarães também se empenha em registrar o que acontece na plateia. "A empolgação dos fãs é uma coisa contagiante. Eles gritam, empurram e dão vários moshs (pulo do palco, amortecido pelo próprio público). É sensacional!", diz o cearense, que ressalta ser fã do estilo musical dos shows registrados.
Mesmo com a presença cada vez mais intensa da internet como principal forma de divulgação, muitas bandas cearenses ainda não possuem estratégias eficientes de administração da própria imagem.
"Uma boa fotografia pode mudar toda a primeira concepção que uma pessoa tem a respeito de uma banda. Há muitos casos de bandas cearenses que são superprofissionais em estúdio, mas não tem uma boa imagem de divulgação", diz.
Com a popularidade alcançada com os seus trabalhos, Gandhi começou a prestar serviços de produção para grupos locais. Uma delas é o grupo Encéfalo, que em setembro embarca para 22 shows na Europa. "Nós do Arquivo Underground produzimos um videoclipe para a banda e aproveitamos para fazer fotos do making off das gravações. Hoje, essas imagens ainda são as utilizadas pelo grupo para divulgar o trabalho", relata o fotógrafo, destacando que atualmente o vídeo possui mais de 17 mil visualizações, um bom número de audiência para uma banda independente.
Gandhi destaca que o coletivo Arquivo Underground passa por um momento de reformulação. "Vamos incluir uma galera nova, que já tem o nosso trabalho como referência", detalha.
Rock Cordel
Ainda integra o material disponível na exposição peças de divulgação das sete edições já realizadas do festival Rock Cordel. O material cedido pelo Centro Cultural Banco do Nordeste foi organizado por Amaudson Ximenes, que participou da curadoria de bandas do evento desde a primeira edição. "Já realizamos duas exposições no shopping e aproveitamos a abertura desse espaço para mostrar um pouco da história do festival", detalha o músico. Ao todo, serão 50 fotos de edições anteriores, além de cartazes, panfletos e a programação de cada ano, com a lista das bandas.
Mais informações:
Exposição Rock Cordel e Arquivo Underground, no Shopping Benfica (Av. Carapinima, 2200, Benfica). Entrada gratuita. Contato: (85) 3243.1000
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