O dia é de celebrar: os músicos da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho sobem, às 18 horas, no palco do Theatro José de Alencar (TJA), para o concerto de abertura da temporada 2014! Sem se apresentar com sua formação completa desde março passado, e ainda negociando o futuro financeiro e administrativo do grupo, os músicos já começam vislumbrar uma saída para crise.
"É como se passasse uma tempestade e víssemos um raiar do Sol, um novo horizonte. Estamos com o gás renovado para trabalhar", comemora o violoncelista Wescley Souza, sobre o concerto desta noite, que será dedicado a dois personagens com trajetórias marcadas por este 2014: o maestro e compositor cearense Alberto Nepomuceno (1864 - 1920), que terá algumas de suas peças executadas esta noite; e o escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna (1927 - 2014), que faleceu mês passado, e ganha homenagem pela obra de compositores que traduziram seus ideais.
"Vamos juntar essas linguagens. O nosso querido Alberto Nepomuceno, que está completando 150 anos de nascimento e vem uma escola de composição mais antiga, do período romântico, e peças mais atuais, em homenagem ao Suassuna, como o tema do filme 'O Auto da Compadecida', peças de Guerra Peixe, Clóvis Pereira, que trabalharam com essa temática nordestina, com características do movimento Armorial", detalha o maestro da Orcec, Arthur Barbosa.
O maestro está de passagem por Fortaleza, onde, além de coordenar os ensaios, participa das negociações quanto ao futuro da orquestra. Em meio às turbulências dos últimos meses, Barbosa voltou a morar no Rio Grande do Sul (onde é funcionário concursado e regente da Orquestra Sinfônica da Escola da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre).
"Esse concerto vai ser um marco. Eu vim voluntariamente, consegui licença para vir, porque acho muito importante esse momento. Marca uma nova fase para o Orcec", justifica o maestro, lembrando do atual período do grupo.
Negociações
Desde abril, os músicos haviam suspendidos as atividades da orquestra, pela qual, na época, não eram pagos há seis meses. Somente no mês passado, após o rompimento da orquestra com a associação que a administrava e de um acordo para o pagamento feito diretamente pela Secretaria da Cultura (Secult), mediado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a situação começou a ser contornada.
"Esperamos que muita coisa aconteça. Este ano, a Orcec completou 18 anos. É o grupo mais consolidado e, disparado, o melhor de Fortaleza, em questão de nível", diz Arthur Barbosa. O maestro faz questão de reforçar a qualidade e a importância para a música Ceará do grupo que sobe esta noite no palco do TJA.
Quanto ao andamento das negociações que irão definir o futuro administrativo da Orcec, os músicos dão como certa a parceria anunciada no fim do mês passado com a Fundação Eleazar de Carvalho. A entidade seria a nova gestora do projeto, que antes estava sob cuidados da Associação Artística de Concertos do Ceará (AACC).
"A Fundação Eleazar de Carvalho tem sede em São Paulo e está abrindo filial aqui no Ceará. A parceria está solidificada e o concerto de hoje marca isso, além da abertura da temporada", afirma Wescley, que é um dos representantes dos músicos na comissão montada para negociar com a secretaria. A Secult ainda estuda outras opções para gestão da orquestra, como a incorporação da Orcec ao Estado, que seria viabilizada via Universidade Estadual do Ceará (Uece), mas a situação só deve ser definida após uma reunião conjunta, que deve acontecer nos próximos dias.
Futuro
Para Arthur Barbosa, definir a forma de administração da orquestra é apenas um primeiro passo do novo momento que está sendo vislumbrado. O maestro, que financiou com recursos próprios sua vinda ao Ceará, explica que pretende manter-se como regente do grupo, ainda que precise dividir moradia entre Fortaleza e Porto Alegre.
"Minha intenção é estar sempre presente. Levar adiante o trabalho, terminar a temporada do ano", diz, lembrando que, neste momento, as expectativas do grupo são as melhores possíveis.
"O grupo está entrando para a maturidade. E mesmo com o apoio da Fundação, o grupo já tem maturidade para compartilhar essa gestão. Queremos um grupo democrático onde todos são consultados", diz e reforça, "a gente tem mania de culpar o governo por tudo, mas as coisas podem vir de outras maneiras. Junto com o governo, lógico, a gente tem esperança que a Secult vai sim abraçar esse momento. Acho que não vão querer está de fora".
Mais informações:
Concerto de abertura da temporada 2014 da Orquestra Eleazar de Carvalho. Hoje, às 18 horas, no Theatro José de Alencar (Rua 24 de Maio, 600 - Centro). Gratuito. Contato: (85) 3101.2596
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