Dia 6 de setembro será, muito provavelmente, uma data privilegiada para se estar em Fortaleza. É que, amanhã, aterrissa na cidade o espetáculo "Cordas, Gonzaga e Afins", com uma equipe de talento raro. O projeto reúne, no mesmo palco, a cantora Elba Ramalho, o grupo instrumental Sagrama e o quarteto de cordas Encore, além do baterista Tostão Queiroga e os sanfoneiros Beto Hortis e Marcelo Caldi.
O projeto foi criado pela produtora cultural e jornalista Margot Rodrigues e selecionado pelo Edital Nacional 2013 do Programa Natura Musical. A proposta é fazer uma homenagem a Luiz Gonzaga (este ano se lembra um quarto de século desde a sua partida) e, ao mesmo tempo, comemora os 35 anos de carreira de Elba. A dupla celebração vem na forma de espetáculo em que as canções do "Mestre Lua" e o universo que o inspirava ganham roupagens armoriais. A apresentação acontece na Praça Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
O repertório conta com 22 canções, muitas delas do Rei do Baião e outras dos seus "afins", a exemplo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, com "O ciúme" e "Domingo no Parque", respectivamente. Entre as músicas de Gonzagão estão "Algodão", "Súplica Cearense", "Sete Meninas" e os sucessos "Sabiá" e "Que Nem Jiló".
Mas o projeto vai além do formato convencional de um show, ao agregar elementos de outras linguagens. Entre uma música e outra, por exemplo, Elba interpreta textos do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, quando aproveita para reviver seus momentos de atriz.
Conhecido por textos de peças como "As Centenárias" e "Agreste" e "Assombrações do Recife Velho", Moreno construiu uma dramaturgia com influências especialmente da cultura popular tradicional do Nordeste. A homoafetividade é outro tema que perpassa boa parte de sua obra.
Dramaticidade
Sob a direção artística de André Brasileiro, a dramaticidade do espetáculo é acentuada por meio das imagens do VJ Gabriel Furtado, que levam o público ao sertão gonzaguiano. Para essa viagem, o projeto contou com a parceria da Caravana TimeLapse, que inova na técnica de captação de imagens raras e naturais.
Em um dos ensaios, "Tupiaganga", feito no Rio de Janeiro, a captação foi feita de cima de vários prédios, escalando picos e morros. Outro projeto foi "Mandacaru", que captou a alma de Cococi, cidade quase desabitada do Ceará.
Além de Brasileiro, "Cordas, Gonzaga e Afins" tem ainda direção musical de Sergio Campelo, responsável pelos arranjos. Já o cenógrafo, maquiador e professor de cênicas, Marcondes Lima, une a estética sertaneja e contemporânea nas texturas e cores, presentes também no figurino de Elba, que tem auxílio dos estilistas pernambucanos Carol Azevedo, Gustavo Silvestre e Refazenda.
A turnê nacional do espetáculo estreou no último dia 23, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Depois de Fortaleza, ao longo dos próximos meses, segue por mais seis cidades: Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém e Belo Horizonte. Na capital pernambucana, a apresentação ocorre no dia 23 de setembro e será gravada para o lançamento de um DVD, em comemoração aos 35 anos de carreira de Elba Ramalho.
Segundo a cantora, os primeiros encontros da equipe aconteceram em março. "Fomos construindo aos poucos, achamos um caminho entre as idas e vindas a Recife e Rio. De lá para cá começamos a elaborar o roteiro, tirar os tons, ensaiar. Vim a Recife todos os meses de março a julho. Agora estamos nos ensaios para a turnê", conta.
Elba sempre esteve bem próxima da construção do projeto. "Não faria se não tivesse minha personalidade, meu poder de decisão e meu toque pessoal. Trabalhar com o André (Brasileiro) é muito bom. Ele me conhece bem e sabe até onde posso ir. As coisas ficam mais fáceis", elogia.
E sobre cantar Luiz Gonzaga? É mais fácil por ser um sucesso ou mais difícil, por tudo que ele representa? "Boa pergunta. Já fiz dois discos e um DVD cantando Gonzaga, já vasculhei sua obra. Mesmo assim não o suficiente para me sentir satisfeita. Dessa vez pegamos um lado meio B dele, descobrimos um maracatu antiquíssimo. Ele era esperto, competentíssimo", derrete-se.
Entrevista com Elba Ramalho, cantora
"As músicas são muito dramáticas, tudo é muito novo"
Como o projeto foi proposto a você?
O projeto foi criado pela Margot Rodrigues. A Natura me "investigou", perguntavam tantas coisas e eu sem entender (risos). Até que fui avisada. São milhares de projetos que concorrem, ficamos muito felizes porque escolheram o nosso. Às vezes, as pessoas dizem "nossa, mas Gonzaga de novo?". Sim, Gonzaga sempre. Quando mais mexemos em sua obra, mais descobrimos pérolas.
Além da música, você precisa dar conta de uma porção atriz. Sentiu dificuldades?
Não, porque venho da escola do teatro. Antes de ser cantora era atriz. E boa! - modéstia à parte. Então fica fácil pra mim. Ao mesmo tempo, estamos contando uma história que é a minha história, nessa maneira que construímos o espetáculo. Estamos felizes porque o resultado ficou muito bonito, tão digno, num momento em que a cultura pode ser tão descartável. É um espetáculo para dançar, para assistir, para se emocionar.
Trata-se de um espetáculo de grande porte, com cenários, projeções, figurinos especiais. É diferente de fazer um show na turnê de um de seus álbuns?
É difícil porque exige muito, tanto musicalmente, quanto fisicamente. As músicas são muito dramáticas, tudo é muito novo. Mas é um desafio e, como todo desafio, é instigante. Vem sempre alguém te surpreender quando você acha que já fez de tudo.
Ainda é possível fazer projetos desse porte sem ser por meio de editais ou de patrocínios de empresas?
Não é fácil. Todos os anos faço um show novo, com cenário diferente e tal. Mas um projeto como esse envolve dois grupos fortes (Sagrama e Encore), uma equipe enorme, com baita cenário, três figurinistas. Você precisa estar com um patrocínio (AM).
Mais informações:
Espetáculo "Cordas, Gonzaga e Afins". Dia 6/09, às 21h, na Praça Verde do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (R. Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Ingressos: R$ 30, à venda na bilheteria do Dragão do Mar e no site Barato Coletivo. Contato: (85) 3488.8602
|
