Projeto "Sesc Convida" traz espetáculo "Autópsia", encenado pelo Grupo Grite, todas as sextas de março
Toda a acidez expressa nos versos do poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) ganha materialidade no espetáculo "Autópsia", encenado pelo Grupo Independente de Teatro Experimental (Grite), que inicia temporada nesta sexta, às 20h, no Teatro Emiliano Queiroz, como parte do projeto "Sesc Convida". Dividida em três partes, a peça reúne literatura e teatro, associando duas linguagens artísticas com o objetivo de "difundir a obra de Augusto dos Anjos", afirma o diretor do espetáculo, W. Renoir Melo, justificando a identificação que o grupo tem tanto com a poética quanto com a origem do autor.
A proposta de trabalho do Grite tem como foco autores nordestinos, mas que abordem questões mais subjetivas, a exemplo dos conflitos existenciais, elementos identificados na poesia de Augusto dos Anjos, considerado um autor pré-modernista, diz. O cenário é concebido a partir de arames, simbolizando a frieza, forma como o poeta encarava a existência humana, e cada órgão representa um momento de sua vida. Pele, coração e pulmão são "autopsiados" simbolicamente, merecendo cada um deles uma leitura particular.
Esta é a segunda temporada do espetáculo, que volta a ser apresentado nos dias 8, 15, e 22 de março, sempre às 20h. Inspirado na vida e na obra do poeta paraibano, a montagem do texto leva a assinatura de Léo de Oliveira, cuja criação tem como ponto de partida a poesia de Augusto dos Anjos, responsável por toda a forma da dramaturgia do espetáculo. Conforme Renoir Melo, o espetáculo é encenado em três tempos diferentes, sendo representado pelas partes do corpo do poeta. A primeira faz referência à pele; a segunda é representada pela carne e pelos órgãos; e a terceira simboliza a alma. "O coração está relacionado ao amor e à relação com a família, o pulmão fala sobre a doença e a alma mostra a sua personalidade", ressalta o diretor que estuda o autor em sua monografia. "O meu objetivo é mesclar teatro e literatura a fim de tornar a obra mais acessível aos jovens", diz, completando que fica mais palpável ao público.
A escolha de Augusto dos Anjos não foi por acaso, seguindo a temática de trabalho do grupo, que dá preferência aos autores nordestinos, seguindo uma estética sombria, mórbida. Trata-se do segundo espetáculo do Grite, que tem oito integrantes, embora apenas três atuem no "Autópsia". Eles são atores amadores, estudantes da Escola de Ensino Fundamental e Médio Hermínio Barroso, localizado no Bairro Antônio Bezerra. Sobre o trabalho com os estudantes, reconhece ser um "processo muito interessante e começou na escola". No início, eles tinham dificuldades para trabalhar com o texto, que utiliza um vocabulário difícil. "Mas é compensador", admite, afirmando que dois alunos estão fazendo faculdade em teatro. A iniciativa foi desenvolvida na escola que contava com um projeto de arte-educação, mas acabou. No momento, conta que está procurando novo espaço para realizar trabalho semelhante.
Oficina
Na Escola Hermínio Barroso lembra que o trabalho começou a partir da realização de uma oficina, que acontecia nos fins de semana, sendo aberta à comunidade. Dos 30 jovens inscritos no primeiro dia, pularam para 70 no dia seguinte, e o jeito foi realizar uma seleção. Renoir Melo diz que durante muito anos trabalhou com o projeto "Amigo da Escola", identificando muita carência quanto ao ensino de arte, reconhecendo ser difícil realizar atividades culturais. O diretor, que há 16 anos trabalha com teatro de forma amador, ingressando profissionalmente nos últimos quatro anos, não esconde o desejo de promover um projeto reunindo literatura e teatro nas escolas públicas. O primeiro espetáculo realizado pelo grupo foi "Devaneios", abordando as doenças psicológicas ou da alma humana. Em "Autópsia", o grupo retoma a temática mórbida, usando a vida e a obra de Augusto dos Anjos. Os atores inovam na forma de fazer teatro, lançando mão a elementos simbólicos, usando arame para construir os elementos da cenografia. Os corpos são usados em performances nas quais os atores realizam uma autópsia na poesia do autor, usando as partes do corpo como representação da vida e das angústias do autor.
Mais informações:
O Sesc Convida realiza o espetáculo "Autópsia", com o grupo "Grite", nos dias 1,8,15 e 22, às 20h, no Teatro Sesc Emiliano Queiroz, na Avenida Duque de Caxias, 1701, Centro. Ingressos: R$ 12,00 (inteira); R$ 6,00 (meia). Contato: (85) 3464.9347
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