Repertório do Rei do Baião é base dos shows que a cantora faz sexta-feira, sábado e domingo na Capital
O acordeom dá o tom para entrar em cena a carismática Maria Alcina - a cantora foi revelada no VII Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972, ao interpretar "Fio Maravilha" - que com sua voz grave e marcante encarrega-se de dar vida à poesia de um dos clássicos da música brasileira, a internacional "Asa Branca". É dessa maneira que Maria Alcina começa o espetáculo "Asa Branca", em comemoração ao centenário de nascimento de Luiz Gonzaga, homenagem que a cantora, mineira da Zona Mata, presta ao "Rei do Baião", desde o ano passado. Amanhã, às 20h, no sábado e domingo, às 19h, será a vez do público de Fortaleza conferir o espetáculo, com uma hora de duração, na Caixa Cultural Fortaleza. "Estou emocionada", confessa a cantora, que diz estar com saudade de Fortaleza, onde vem homenagear "o maior ícone nordestino", como define Luiz Gonzaga. O contato com a música nordestina não é de hoje na carreira de Maria Alcina, que gravou "Paraíba" e "Mulher rendeira", em 1972.
A cantora Mária Alcina: promessa de uma nova cara para o som tradicional de Gonzagão
O show, que é idealizado e dirigido pelo produtor musical Fran Carlo, inclui outros clássicos de Luiz Gonzaga, como "Paraíba", "Baião", "Sabiá", "Jesus sertanejo", "Casamento da roça", "Morte do vaqueiro" e "Pagode russo ou dança do cossaco". "O show é bastante interativo", avisa Maria Alcina, afirmando que a plateia faz questão de acompanhar. Conta que o espetáculo é simples, acrescentando que os arranjos são originais, conforme decisão do sanfoneiro Olivinho, que acompanha a cantora. "É um show simples, original, mas sofisticado", afirma a cantora, cuja tonalidade grave da voz, aproxima-se do tom de Gonzagão. "É muito instigante", destaca.
Devido ao sucesso do espetáculo, que deve virar CD e DVD, a cantora promete continuar com o projeto em 2014. Entre as apresentações de "Asa Branca" e shows pelo Brasil, Maria Alcina está gravando o CD que marca os 40 anos de carreira, que contará com sucessos e músicas inéditas. "O Arnaldo Antunes compôs uma música para mim", conta, assim como Zeca Baleiro, Anastácia, Péricles e Karina Buhr. A cantora fala sobre a boa relação com as novas gerações de músicos, sobretudo da cena independente. "São muitos generosos", reconhece, daí sempre ser chamada para cantar em shows, citando a parceria com o grupo "Bojo", que proporcionou o seu contato com a música eletrônica, resultando em show no Sesc Pompeia, de São Paulo, e o CD "Agora", em 2004.
Sobre a transformação do espetáculo "Asa Branca" em CD e DVD, conta que é uma proposta do produtor. Consiste "em registrar um momento único de minha carreira", admite, afirmando que todo brasileiro nasce ouvindo as música de Luiz Gonzaga. "A música de Gonzagão é um manto que nos cobre", compara, afirmando que, à medida que foi pesquisando para fazer o show, descobria novas canções e se envolvia mais com o projeto. Acompanhando a cantora, o acordeonista Olívio Filho, também dirige o espetáculo, além de percussão/bateria e violão. A introdução desses instrumentos contribuem para enriquecer o forró, ritmo imortalizado por Luiz Gonzaga.
Os dois artistas têm uma característica em comum: a irreverência, traço que define a carreira de Maria Alcina. Ela atribui essa sua energia à proximidade com o Nordeste. "Sou mineira da zona da mata, perto da Rio-Bahia", justificando o que chama de "fogo", ri. Ao falar sobre o seu contato com o forró ou as manifestações musicais nordestinas, lembra que em 1972, gravou "Paraíba", depois, "Mulher rendeira". Recorda a fase em que gravou as músicas "Prenda o Tadeu", da compositora alagoana Cremilda.No mesmo período, gravou "A espiga" e "Calor na bacurinha" explicando que são músicas do pastoril de Pernambuco, assim como o "calango" é um ritmo de Minas.
A cantora passou muitos anos sem gravar, mas conta que se manteve calma, justificando que "o tempo para o artista não existe". De "Fio Maravilha", "Kid Cavaquinho" e "Alô, alô" até chegar à música eletrônica do grupo "Bojo", no início de 2000, passaram-se muitos anos. Em 2003, a gravadora Warner Bros Records reproduziu sua obra em vinil para CD. Em seguida, veio o contato com o pessoal do Bojo e o disco "Confete e Serpentina", com o qual ganha o prêmio Tim de melhor CD e de melhor cantora.
Isso prova que o tempo para o artista, senão existe, é, no mínimo, diferente. A cantora já prestou homenagens a outros artistas, como por exemplo, Adoniram Barbosa e Carmem Miranda. "Gosto de cantar e divertir as pessoas", diz, resumindo a sua carreira.
A irreverência e a ousadia são os principais elementos da arte da Maria Alcina, cantora descoberta na época dos festivais, nos anos 1970, ao eternizar com a sua voz grave e flexível a música "Fio Maravilha". O ano era 1972, quando a então desconhecida garota de Cataguases, interior de Minas Gerais, subiu ao palco do Maracanãzinho e impôs uma performance personalística e ousada para a época, principalmente porque o País vivia um dos momentos mais duros do Regime Militar (1964-1985), ao cantar e vestir-se de maneira exótica. Ela levantou o público, ao cantar a música que lhe rendeu o prêmio de menção honrosa do júri popular, no VII FIC, na categoria nacional. Depois de de quatro décadas, a música de Maria Alcina prova que tem sete fôlegos. A cantora, cuja carreira teve início nos anos 1970, entra a década de 1980 misturando ritmos e estilos. Irreverente, exagerada e performática, Maria Alcina empresta seu talento para interpretar clássicos do "Velho Lua", no show "Asa Branca".
Performance
Num tempo difícil para todos os brasileiros, imagine para aqueles que destoavam um pouco, ou muito, como era o caso de Maria Alcina, das normas estabelecidas. Uma mistura de Carmen Miranda com fantasia de Carnaval, assim pode ser definido o visual dela que, nos anos 1970, teve problemas com a censura. Entre os seus maiores sucessos estão "Fio Maravilha" de Jorge Benjor (na época era apenas Jorge Ben) e "Kid Cavaquinho", de João Bosco e Aldir Blanc. O Carnaval é outra referência na música de Maria Alcina, assim como a cantora Carmen Miranda. Ela interpretou, no início de sua carreira, sucessos como "Alô, alô" e "Yes, nós temos banana". A cidade de Cataguases logo ficou pequena para o seu talento. A cantora se mudou para Rio de Janeiro e iniciou a carreira no Teatro de Revista, ao lado de Leila Diniz. Depois do sucesso com a música "Fio Maravilha", Maria Alcina gravou músicas de artistas consagrados, como Rita Lee, João Bosco & Aldir Blanc e Eduardo Dusek.
Mais informações
Show "Asa Branca", com a cantora Maria Alcina, amanhã e sábado (às 20h) e domingo, às 19h, no teatro da Caixa Cultural, Av. Pessoa Anta, 287, Praia de Iracema. Os ingressos, que custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), podem ser adquiridos a partir de hoje, às 9h, no local.
Contato: (85) 3453-2770
|